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O cheiro podre da fossa invade os vãos da janela do quarto de Alícia, esta sente o odor do lodo da parede que se acentua com as chuvas de verão.
São quase cinco da manhã e estando sóbria, ela contempla a solidão que habita naquele quarto mobiliado com estante empoeirada e guarda-roupa desarrumado. Deitada, se vira de um lado para o outro, pensa no que diabos  está fazendo ali, angustia-se com os amores que a idade não trouxe, com a ausência de perspectivas para o amanhã. Esfrega as mãos em seu rosto e sente não ter nada dentro dela, agoniza...
Deseja sexo, drogas sintéticas, músicas nos fones ou qualquer coisa que seja capaz deixá-la suficientemente amortecida e não precise pensar sobre a sua condição no plano dessa existência, porque nada pode conter o cheiro podre que exala de uma vida medíocre.

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oração

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