"Uma noite longa, uma vida curta (...)"
"Ih, que que eu tô fazendo aqui
Mais de 7 dias sem dormir (,,,)"
A vida é podre, logo cheira
mal!
Sábado à noite, 20h, saí de casa para beber com uns amigos em um bar,
fizemos piadas ruins, conversamos sobre o passado, alguém me perguntou em que
trabalho e eu evitei conversar sobre o assunto. Não sei acredito no que estou
fazendo, mas faço! Assim, eu bebo mais um copo. Não consigo compreender o
porquê os dilemas humanos não são dissolvidos no álcool. Nada obstante, eu
estou bem, sabe? Estou no bar com amigos, em seguida outras mesas juntam-se a
nossa e amigos juntam-se a nós. Todos são amigos no bar, isso me parece muito
evidente. O copo está cheio, mas a garrafa de cerveja não! Pedimos outra
garrafa, logo algumas confissões emergem. Alguém a mesa me ridiculariza, ocorre
parecer apenas uma brincadeira, pois olho para os lados e todos riem. Eu me
pergunto: “Como uma pessoa até o momento desconhecida pode saber – exatamente –
como me magoar?”. Todos os dias eu acordo e lido com a minha existência ferida,
eu lavo a minha cara preta na torneira da pia do banheiro com sabonete líquido
barato e ao me olhar no espelho, eu me concentro em retirar a remela dos olhos.
Eu encaro a minha imagem no espelho e procuro não enxergar mais nada do que
faces negras, dentes amarelos e cabelo bagunçado. Eu me empenho em não pensar
sobre o que disseram e/ou espera do meu corpo pequeno e limitado. Eu me esforço
para não admitir e relacionar meus sonhos a caricatura que vejo refletida no
espelho. Enquanto escovo a língua, penso no café ruim da padaria ao lado, no
coletivo lotado, nas expressões sonolentas das pessoas que vão sentadas, nas
crianças conversando alto, nos jovens com uniformes de lojas de calçados e
eletrodomésticos. Ligo o chuveiro e reflito: “Qual o sonho desses jovens? Será
que quando estavam na escola e alguém perguntava o que seriam quando
crescessem, eles imaginavam que aos vinte e poucos estariam aqui? Quem zelou
pelos desejos dos jovens uniformizados quando pego coletivo pela manhã?” Quem
intercedeu pelos anseios da moça do bar que me ridicularizou? A noite é
longa... Desçam mais uma cerveja! Vou encher meu copo. O papo tá bom, mas o bar
tá fechando e ninguém quer ir embora. Por que a volta para casa parece ser
sempre tão dolorosa após uma noitada com cervejas e amigos? Fomos para casa, a
casa da moça que me ridicularizou! Amigos, essa não é uma história sobre a
moça, sobre uma noite no bar, sobre meu olhar, sobre mim ou algo nesse aspecto.
Essa é apenas uma história. Fumamos marijuana na rua, enquanto um casal se
devorava em beijos. Eu suponho que deva existir alguma relação entre a noite,
os bêbados e fornicadores. Não minto, quis estar com o casal. Lembro-me de ter pedido
em voz baixa, mas acho que não me escutaram ou se me escutaram eu obtive o
silêncio por resposta. Dessa forma, eu reclinei a minha cabeça e procurei em
volta uma pedra para que eu pudesse chutar, não encontrei, então eu corri. Eu
tencionei correr até chegar a algum lugar, o qual eu não sentisse a necessidade
de esconder a minha vergonha. Alcancei outras pessoas e tentei me inteirar
sobre o que diziam, eu vi outros corpos se encontrarem e os lábios se tocarem.
Eu vejo e eu desejo! Eu não entendo como quem eu queria e há um minuto estava
ao meu lado descobriu de maneira tão vertiginosa outro abraço. É tarde, quero
dizer, é manhã. Durmo na cadeira fio e escuto quando transam no banheiro e
quando vou até a cozinha, eu vejo duas figuras foderem no tapete da sala. Eu
tomo água, sinto um enorme desconforto, noite mal dormida, ressaca, angústias
não elaboradas. Eles fodem! Eu respiro, passo por eles novamente, digo que
estou saindo, alguém pergunta se está tudo bem, eu saio, não sei onde estou,
fiquei perdida.
“A vida te fode, sua mulher te
fode e você não.”
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